quarta-feira, 30 de julho de 2008

Gênero Ensaio - Professor Lúcio Manga

A seguir, o texto do professor Lúcio Manga, publicado em A Gazeta de 28 de abril de 2002.

Quanto vale um texto?

Quanto vale um texto? Virgínia Santi, futura médica, disse o seguinte: "Os cidadãos deveriam deixar a passividade de lado e passar a discutir mais sobre política, tanto dentro quanto fora de casa, e estimular os pais e as instituições de ensino a ensinar a todos a pensar no voto como uma forma de contribuir para a melhoria da democracia, e não, como vem sendo exposto, como um meio de encher os bolsos dos políticos." Ela está certa. É preciso deixar a passividade de lado e dizer certas verdades no peito. A questão é simples: Quanto vale um texto?Ao iniciar os trabalhos relacionados à produção de texto, sempre estamos lado a lado com o velho paradigma das inúmeras possibilidades de argumentar a partir da mesma idéia de maneiras diferentes. A linguagem nos permite avançar. O problema, entretanto, é que de espectador passamos a personagem, dentro do trabalhoso mundo dos pesquisadores de teto (amigos inseparáveis de leituras) e do mundo dos que vão dar uma nota ao texto produzido pelos alunos. E, como personagem, faço parte da história, quase como protagonista, não fosse a história de cada cidadão-vestibulando-embrionário. Não importa. Assumo o papel de "núcleo engraçadinho da novela", mas levo a sério tudo que se movimenta em função do texto.Nossa citação inicial foi retirada de uma redação produzida pela aluna Virgínia Santi, adolescente significativamente cidadã, que consegue desenvolver e ser uma candidata de peso em qualquer concurso de vestibular, cuja redação seja corrigida por aqueles que pesquisam sobre argumentação, que devoram as inúmeras informações sobre produção de texto. Para dar uma nota em um texto, é preciso saber o que não descontar, mas a banca corretora de redação da Ufes não dialoga. Não se apresenta à comunidade, fica trancafiada em sua "torre de marfim", distribuindo notas. Qual é o critério? Quem são os algozes?O leitor deve estar pensando que faço aqui uma defesa pública da minha aluna Virgínia, mas não é o caso. Ela tirou uma nota excelente. A guerra interna gira ao redor da proposta. A universidade está a milhas do que ela mesma produz como discurso pedagógico. Quem corrige as provas do vestibular está escondido pelo sistema. Daí ser a nota o cálice sagrado; daí a desesperada luta pelo bom texto não ser uma questão de vontade própria, mas de imposição da ocasião. "Quanto vale o meu texto?" – é a pergunta que escuto durante todo o ano. E, a cada vez que atribuo um valor, torno-me responsável pela futura nota do avaliado. Tormenta digna de divã.Estamos chegando ao parágrafo da "solução para o problema". Então, deixo uma dica aos professores da banca de redação da Ufes. Dêem uma olhada nas provas que preparamos, reparem nos temas propostos, façam reflexões, troquem informações, permitam-nos entender a lógica criada por vocês. Sejam educadores. Mas, caso essa solução seja melodramática demais, sigam os conselhos de Penha Lins, Hilda, Cleonice, Bregenski, Idelze, Sheise, Paulo de Tarso, Dodora, José Augusto, Geraldi, Costa Val, Ingedore, Alcir, enfim, os grandes mestres do texto.Reparem que a introdução deste texto fala da importância de fazer o jovem pensar. Hoje talvez seja a tarefa mais significativa do processo educacional. Para pensar, entretanto, é preciso uma questão. Alguns alunos questionaram a nota atribuída pela Ufes, ficaram esperando uma resposta minha. O problema é que eu estou tentando entender quem foi o aculturado em meio de comunicação que acha que um jovem deve saber quem foi Alziro Zarur ou Madame Satã, por exemplo, a ponto de conseguir um consistente-coerente-coeso e, é claro, original texto dissertativo.
LÚCIO MANGA é professor de produção de texto
Redija um ensaio, nos moldes do texto do professor Manga, com base no tema "Redação: o bicho-papão do vestibular - Mito ou ralidade?"

Proposta de redação - Carta argumentativa

Carta Aberta aos Adolescentes - Caso Richthofen
Floriano Serra *
Você tem notado como, depois do crime da rua Zacarias de Góis, seus pais estão diferentes? Se você não notou - ou se eles se esforçaram para que você não notasse - deixe-me dizer-lhe uma coisa: eles estão no maior parafuso do planeta, e, o que é pior, estão sofrendo pra caramba.
Não, a culpa não é sua. A culpa é daquele triste fato, recentemente ocorrido no bairro do Campo Belo, em São Paulo, que conseguiu abalar todas as crenças, valores e conceitos aprendidos pelos seus pais durante anos e anos sobre a melhor maneira de se educar os filhos. Tudo porque um casal fez exatamente como eles...e deu tudo errado - fatalmente errado.
Com certeza você já percebeu que, através da imprensa, tem um monte de especialistas competentes tentando explicar as causas, tentando indiretamente dizer aos pais: "não se preocupem, isto é uma exceção, isto não vai acontecer com vocês. Isso só aconteceu com eles por causa de...." - e aí vem uma série de justificativas e explicações bem intencionadas, mas que, na verdade, estão deixando muitos pais mais confusos ainda. Sabe por que?
Porque ora um especialista afirma que a culpa é do excesso de amor e proteção para com as crianças, tornando-as exigentes, egoístas e frias. Aí vem outro e diz que é preciso ser duro com elas desde cedo, impondo-lhes limites que as levem a aprender quais são seus direitos e a respeitar os direitos alheios. Alguns profissionais vêm afirmando há tempos que é preciso elogiar muito as crianças para dar-lhes segurança e autoconfiança. Aí vem outro e diz que excesso de autoestima vira egoísmo, arrogância e frieza afetiva. Que fazer então? Qual é a fórmula? Alguns pais têm me confessado que, ultimamente, têm pensado duas vezes antes de dar um beijo no filho ou na filha, antes de fazer um elogio, ou antes de chamar-lhe a atenção, de fazer-lhe uma repreensão. E alguns - que Deus os perdoem - têm acordado angustiados no meio da noite, se aproximado do berço ou da cama do filho ou da filha dormindo e, com um imenso e angustioso aperto no peito, perguntar-se se não está criando um inimigo dentro de casa...
Grande parte dos pais está assim, com uma espécie de paranóia, uns mais outros menos. Mesmo aqueles que há poucos dias se vangloriavam de nunca terem batido nos filhos, de nunca terem precisado gritar com eles, aqueles que perderam noites cuidando da sua saúde, ou esperando você chegar tarde da balada para só então encontrar tranqüilidade para dormir - mesmo esses estão perplexos e inseguros sobre como proceder com você daqui por diante. Eles não sabem mais se devem ou não lhe dar presentes caros. Nem sabem mais se devem ou não continuar pagando seus estudos, financiar suas noitadas e festas de aniversário, confiar nos seus amigos, permitir que você passe dias fora de casa.
Uma jovem - talvez com idade, educação e estilo de vida parecidos com os seus - conseguiu abalar a autoconfiança dos seus pais. E, em alguns casos, a confiança deles em você, como se estivessem vivendo um pesadelo.
Eu escrevi essa Carta Aberta, porque eu gostaria que você soubesse dessas coisas, antes de você discutir outra vez com seus pais, por aqueles tolos e ao mesmo tempo importantes motivos que são universais: namorada(o), horários, notas da escola, qualidade dos amigos, modos de falar, de vestir, de comer....
Talvez ultimamente seus pais não tenham tido muito tempo disponível para você. A vida anda dura, os problemas de gente grande são muitos. Claro, sei que isso não justifica, mas a verdade é que alguns deles terminam esquecendo de conversar mais com os filhos.
Por outro lado, também sei que você, como todo jovem, leva uma vida muito intensa, muito diversificada e às vezes por isso mesmo muito arriscada, sob vários aspectos. E por causa desse agito todo, você também não tem tido muito tempo para refletir sobre estas coisas. Mas faça um esforço e procure praticar um pouco daquilo que nós, psicólogos, chamamos de empatia: diante dos últimos e dramáticos acontecimentos, tente sentir-se, por uns instantes, no lugar dos seus pais. E tente perceber a encruzilhada na qual eles se encontram.
Estou lhe escrevendo esta carta para pedir-lhe que faça uma coisa, nada muito complicado nem difícil. Estou pedindo a você que ajude a seus pais neste momento tão doloroso e difícil para eles. É relativamente fácil o que vou lhe pedir. É o seguinte:
Quando você chegar hoje em casa e perceber sua mãe ou seu pai calados, com o olhar perdido no vazio - mesmo que estejam olhando para a tv ou fingindo ler um jornal -, nesse momento aproxime-se deles, calmamente. Sente-se bem juntinho ou se agache até o colo deles. Pegue-lhes as mãos - você perceberá que estarão algo trêmulas ou frias. Aqueça-as com as suas. Devagar, com carinho. E, sobretudo, a todo instante, mantenha seu olhar firme no deles. Olhe-os com amor - e sorria serenamente. Ao fazer isso, esqueça desavenças, ressentimentos ou birras - novas ou antigas. Desarme-se emocionalmente. Você estará preste a restaurar a paz nos corações deles. Você estará preste a dar-lhes nova vida como um dia deram uma a você. Não se preocupe muito com as palavras que vai usar, siga apenas as dicas do seu coração. Acredito que sairá alguma coisa mais ou menos assim:- "Pai, mãe. Antes de mais nada eu quero dizer que amo vocês muito. Muito mesmo. Sei que nossa convivência não tem sido e nem sempre será tranqüila e pacifica. Discordaremos em muitas coisas porque vivo em outra época e de outra forma, diferente da de vocês. Por isso em muitas coisas pensaremos e agiremos diferentes.
Mas o grande amor que nos une com certeza nos fará compreender, aceitar e administrar legal essas diferenças. Estejam certos de que, por causa das nossas discordâncias, em nenhum momento meu coração abrigará ódio por vocês, porque saberei claramente que sua intenção é de proteger-me, de defender-me contra aquilo que vocês acreditam não ser bom e seguro para mim. Eu lembrarei disso e terei mais amor ainda por vocês, embora no calor da discussão eu nem sempre demonstre isso. Inclusive, quero pedir-lhes que não receiem se nessas horas eu levantar um pouco a minha voz e sair batendo porta. Isso é coisa de jovem. O importante é que, por maiores que sejam nossas divergências, eu juro que nunca levantarei minha mão contra vocês. Não se deixem impressionar pelas coisas que o mundo lá fora está fazendo. Vocês sabem muito bem que vocês criaram um mundo maravilhoso para nós aqui entre estas paredes. E ninguém nem nada lá de fora conseguirá atravessá-las e trazer para o nosso mundo coisas que não têm a ver com ele. Eu amo vocês e vocês fazem parte da minha vida, que eu amo tanto - por isso tirar a vida de vocês seria autodestruir-me. Neste momento difícil para todos nós, ponham em prática tudo o que vocês me ensinaram: confiem na pessoa que vocês tornaram autônoma, capaz de tomar conta de si mesmo, ainda que às vezes quebrando a cara por inexperiência. Saberei aprender com meus erros e virei pedir ajuda a vocês quando precisar. E, por favor, durmam em paz. Figurativa e literalmente falando. Eu, Deus e os Anjos estaremos velando por vocês, assim como sei que durante toda a minha vida vocês e Eles cuidaram de mim - ainda que eu necessariamente não acredite nas mesmas coisas que vocês".
Era isso o que eu queria dizer e pedir aos jovens do meu País. Talvez muitos me achem careta - mas talvez muitos me levem a sério. Algo me diz - e eu acredito muito nas mensagens que vêm do meu coração - algo me diz que se vocês fizerem o que estou pedindo, vocês farão aos seus pais muito mais bem, dar-lhe-ão muito mais tranqüilidade e paz do que todas as palavras de todos os especialistas do mundo que, tão bem intencionados quanto eu, têm se manifestado na imprensa.
Neste caso especifico, jovem, está nas suas mãos impedir que se instale no coração e na mente de seus dos seus pais o caos na missão de educar filhos. Está nas suas mãos impedir que se perca toda a energia amorosa que fez e ainda faz seus pais permanecerem por longos minutos ao pé da sua cama - mesmo depois que você já dormiu e já está no mundo dos sonhos.
Por falar em sonhos - e para concluir esta Carta - vou lhe contar um segredinho sobre sonhos: direta ou indiretamente, os sonhos dos seus pais, estejam dormindo ou acordados, têm um personagem permanente, que está presente em todos eles, desde que você nasceu, e que aparece sempre alegre e feliz: você.
Receba muitos beijos no coração,Floriano Serra
(Floriano Serra é psicólogo, palestrante e consultor, presidente do Instituto Paulista de Análise Transacional (www.ipat.com.br) , florianoserra@terra.com.br)


Redija uma carta argumentativa endereçada a Floriano Serra. Seu objetivo é comentar o texto escrito por ele.

Proposta de redação - Carta do leitor


Alunos terão aulas de felicidade. Dois mil alunos de uma escola pública britânica terão aulas sobre felicidade a partir do início do próximo ano letivo, graças a um programa piloto que poderá ser implementado ao currículo escolar do país, informou o jornal “The Independent”. Estas técnicas buscam proteger as crianças de males atuais, como a depressão e a falta de auto-estima. O projeto foi lançado devido ao aumento de depressões e enfermidades mentais registradas entre as crianças britânicas. Pelo menos 10% das crianças em idade escolar sofrem de depressão severa, segundo as estatísticas oficiais.
Folha Online, 10 de julho.

Com base no texto acima, redija uma Carta Argumentativa à redação da Folha Online, desenvolvendo o tema “O que estamos fazendo com as nossas crianças?”. Seu texto deverá apresentar um título adequado e ser escrito em prosa, de acordo com a Norma Culta da língua escrita, e limitar-se a 20 linhas, incluindo o título.